Lançado para fortalecer o SUS na pandemia, Fundo Emergencial para a Saúde distribuiu R$40 milhões para hospitais e Santas Casas de 25 estados
Transmitida ao vivo pela Folha, no final da tarde dessa segunda (7), a edição especial deste ano da premiação foi focada na resposta à Covid-19. E teve como um dos ganhadores o Fundo Emergencial para a Saúde, liderado por mulheres, empreendedoras sociais, que uniram forças para trabalhar por um único propósito: ajudar o sistema de saúde brasileiro.
Confira na íntegra a matéria publicada pela Folha sobre o Fundo Emergencial para a Saúde.
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FUNDO EMERGENCIAL PARA A SAÚDE
Organizações Idis, BSocial e Movimento Bem Maior
Empreendedoras Paula Fabiani, Mariana de Salles Oliveira e Carola Matarazzo
Sites idis.org.br / bsocial.com.br / movimentobemmaior.org.br
Carola Matarazzo (Movimento Bem Maior) e Mariana de Salles Oliveira (BSocial) foram pegas de surpresa no dia 27 de julho em uma reunião com o HSP (Hospital São Paulo), quando o estado registrava 10 mil novos casos de COVID-19 por dia.
Representavam no encontro o Fundo Emergencial para a Saúde, que fundaram com Paula Fabiane, presidente do Idis (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social), para socorrer santas casas e hospitais filantrópicos na pandemia.
A vídeo chamada sobre o uso de verbas direcionadas pelo fundo ao HSP tornou-se uma espécie de cerimônia virtual de agradecimento. A equipe da UTI relatou como a doença mudou sua rotina com 1,9 milhão recebido, o hospital comprou novas bombas de injeção de medicamento, que livraram os profissionais da difícil tarefa de escolher quais pacientes receberiam tratamento e quais ficariam sem.
“Estávamos frente a um inimigo desconhecido. Faltavam informação e infraestrutura, não tínhamos nem equipamentos de segurança suficientes”, diz Manuel Girão, diretor da Escola Paulista de Medicina da Unifesp e presidente do conselho estratégico do Hospital São Paulo.
Ele lembra que, no primeiro contato com as gestoras até duvidou da iniciativa de um fundo voltado para o socorro aos hospitais, bom demais para ser verdade.
“Em meio a tanto sofrimento, foi um alento passar dias e noites trabalhando para apoiar quem estava na linha de frente”, diz Paula.
Era um mutirão de capacitação de recursos, um trabalho conjunto da economista com a psicóloga Mariana, e a administradora Carola.
O trio subverteu o ditado que diz “Quem quer ir rápido, vai sozinho. Quem quer ir longe, vai em grupo”.
“O fundo nos ensinou que é possível ir rápido e longe ao mesmo tempo diante do avanço da pandemia no país”, diz Paulo.
Reunião do sexteto feminino à frente do Fundo Emergencial para a Saúde, iniciativa que distribuiu R$ 40 milhões para a Saúde na pandemia. / Divulgação
Uma experiência marcada pela força do feminino, já que as 3 líderes da iniciativa contaram com o apoio da jornalista Andréia o Wolffenbuttel (Idis) e das outras duas cofundadoras da BSocial, Maria Duva Gullo e Flora Botelho.
“Foi um trabalho em rede, descentralizado, onde se formou uma equipe focada e sem ego que trabalhou por uma urgência um propósito único”, descreve Carola.
Paula atribui o sucesso do fundo à liderança feminina: “As mulheres têm uma preocupação genuína com o propósito, e isso fez a diferença”.
Atento ao cenário da COVID-19 em outros países e a demanda exponencial por leitos hospitalares, o sexteto feminino decidiu que o foco do fundo emergencial seria o fortalecimento do SUS.
Assim, as empreendedoras sociais e suas equipes perderam madrugadas de sono e fins de semana atrás de recursos.
Em 5 meses, levantaram mais de R$ 40 milhões de reais. O valor surpreendeu Paula, que tinha como meta inicial captar R$ 5 milhões.
“A cada R$ 5.000, a gente comemorava”, recorda-se ela, ao ver o volume total de recursos multiplicado por oito.
A chave do sucesso foi como se organizaram para a ação. Carola e Paula lideravam as equipes do Idis e do Movimento Bem Maior para fechar a parcerias e captar grandes doadores entre filantropos e empresas.
Enquanto isso, Mariana movia o pessoal da BSocial, plataforma de doação online, para reduzir ao máximo suas taxas e atrair doadores individuais.
“É uma aliança com propósito, isso faz o trabalho ser ágil, maduro e organizado, sem ego envolvido”, diz Mariana, destacando as expertises das entidades como atores sociais e da cultura de doação.
Ao todo conseguiram mais de 10 mil doadores, entre empresas de todos os tamanhos e áreas variadas, pessoas físicas, organizações de famílias voltadas à filantropia.
Foi assim que 53 cidades de 25 estados do país tiveram seus hospitais filantrópicos de Santas Casas fortalecidos em um momento crítico.
A seleção dos hospitais beneficiados foi rigorosa, pautada por um conselho técnico formado pelos médicos Marcos Kisil, José Antônio de Lima e José Luiz Setúbal.
A dura missão de escolher quais hospitais receberiam doações e quais ficariam de fora contou com o trabalho pro bono da PLKC Advogados e da Sitawi Finanças do Bem, que cuidaram da parte jurídica e financeira do fundo.
E conseguiram algo inédito: “Pela primeira vez, os hospitais não precisavam pedir por contribuições, éramos nós que íamos atrás e levávamos até eles”, afirma a Carola, portadora das boas-novas por quase todo o país.
Mariana destaca o impacto nas equipes envolvidas: “Ao saber da doação, os profissionais se emocionavam, sentiam-se vistos, com seus esforços pela saúde reconhecidos pela primeira vez”.
Cláudio Bonduki, docente de ginecologia da Escola Paulista de Medicina, que foi a ponte entre o fundo e o Hospital São Paulo, diz que conhecer Carola foi uma felicidade.
“Com a ajuda do fundo, pudemos nos estruturar e atender aos infectados de maneira humana e eficaz. Somos muito gratos às meninas do Fundo Emergencial para a Saúde”.
“Além da realização por contribuir para o SUS, Carola resume o sentimento por trás da iniciativa: “Saber que pude colaborar para salvar ao menos uma vida já me deixa extremamente grata”.
E foram milhares de vidas salvas em uma conta que ainda não fechou.
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FUNDO EMERGENCIAL PARA A SAÚDE
- Milhares de pessoas impactadas
- R$ 40 milhões em recursos mobilizados
- 60 instituições de 25 estados foram beneficiadas
- 16 Santas Casas de saúde receberam recursos do fundo
- 2,8 milhões de EPIs distribuídos
- 125 mil testes para COVID-19 realizados
- 653 equipamentos hospitalares doados pronto
Matéria publicada originalmente no site da Folha de São Paulo.