BNDES é destaque nas iniciativas, com quase 38% do total
Por Marília de Camargo Cesar — De São Paulo
O BNDES se consolida como grande incentivador do investimento social privado no Brasil, por meio de seus programas de matchfunding, que vêm atraindo cada vez mais empresas para apoiar causas socioambientais, da educação e da saúde. O Monitor das Doações, plataforma que rastreia contribuições anunciadas publicamente com valor igual ou superior a R$ 3 mil, ultrapassou na última semana R$ 1,1 bilhão em doações, dos quais quase 38% vêm de programas ligados ao BNDES.
Segundo João Paulo Vergueiro, diretor-executivo da Associação Brasileira dos Captadores de Recursos (ABCR), entidade que criou o monitor, “as empresas públicas respondem por quase 60% de todas as doações anunciadas este ano, e o BNDES é o maior doador até agora”.
Com um total de R$ 412,60 milhões em aportes, o banco de fomento ultrapassou a Petrobras, que até o início da semana ocupava o primeiro lugar. A petroleira anunciou R$ 280,9 milhões em ações, seguida da Companhia Estadual de Águas e Esgotos – Cedae, com R$ 70 milhões, e da Cargill, com R$ 56,2 milhões. No total, foram 331 doadores, dos quais 93 empresas, 207 pessoas físicas, 23 organizações sem fins lucrativos e oito diversas, como igrejas ou sindicatos.
“Não é de hoje que o BNDES atrai também recursos filantrópicos para o desenvolvimento do país, e isso serve de inspiração para outros bancos”, observa Vergueiro. Ele explica que, como este é o primeiro ano da série histórica do monitor, não há termo de comparação de valores anteriores. A ferramenta foi criada para rastrear as iniciativas de filantropia ligadas especificamente à área da saúde durante a pandemia, mas neste ano se tornou um instrumento de aferição do movimento de doações em geral.
Na lista de doadores individuais figuram Lia Maria Aguiar, acionista do Bradesco, presidente da fundação que leva seu nome e maior filantropa de Campos do Jordão (SP), com R$ 40 milhões em aportes; Bernardo Paz, fundador do Instituto Inhotim, com R$ 25 milhões, família Ribeiro, ligada ao setor de mídia no Rio Grande do Sul, com R$ 10 milhões, Elie (fundador da Cyrela) e Susy Horn, R$ 1,4 milhão. Entre as ONGs, Movimento Bem Maior, R$ 9,2 milhões, Hospital Israelita Albert Einstein, R$ 7 milhões, e Fundação José Luiz Egydio Setubal, R$ 3,17 milhões.
Bruno Aranha, diretor de crédito produtivo e socioambiental do BNDES, destaca a forte atuação do banco nos últimos três anos em iniciativas socioambientais, com mobilização total de R$ 2,5 bilhões para a saúde, durante a pandemia, recuperação de patrimônio histórico, educação, recuperação socioambiental e, mais recentemente, na área de capacitação de profissionais ligados à educação.
O programa Resgatando a História, por exemplo, levantou R$ 300 milhões para obras de restauração do patrimônio histórico nacional, com participação da Ambev Brasil, EDP, Instituto Cultural Vale, Instituto Neonergia e a MRS Logística. Segundo Aranha, o modelo desse matchfunding inovou ao oferecer contrapartida maior do banco para projetos de recuperação de recuperação nas regiões Norte e Nordeste. “Ao invés de aportar R$ 1 para cada R$ 1 do parceiro, colocamos R$ 3 para R$ 1”, afirma Aranha. A restauração do Conjunto Mercedários de Belém (PA), construção do século XVII, é um exemplo de empreendimentos que fazem parte desse programa.
O Floresta Viva, de iniciativas ligadas à sustentabilidade, foi lançado em novembro de 2021 com meta de levantar R$ 500 milhões, sendo metade do BNDES e metade de parceiros, mas em seis meses já havia ultrapassado R$ 700 milhões em investimentos orçados. “Devemos atingir R$ 1 bilhão no primeiro trimestre de 2023”, projeta Aranha.
Ele esclarece que o banco agora tem menos de 50% do fundo, permanecendo com os R$ 250 milhões orçados inicialmente. Entre os parceiros estão Cedae, Coopercitrus, Energisa, Eneva, Grupo Heineken, Governo do Rio de Janeiro, Minerva Foods, Norte Energia, Petrobras, Philip Morris e Vale.
Um programa lançado em agosto, por demanda das empresas, é o Novos Rumos, de qualificação profissional para pessoas em situação de vulnerabilidade social ou de baixa renda, nas áreas de indústria 4.0, tecnologia da informação e economia verde. Já são R$ 60 milhões empenhados, segundo Aranha, metade do banco e a outra metade de parceiros como TIM, Totvs, Ifood, Accenture e XP. “Estamos agora selecionando a instituição que fará a gestão desse programa”, conta.
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Matéria originalmente publicada no Valor Econômico. Para ler na íntegra, acesse aqui.