Quando o assunto em pauta é escolher uma forma para fazer o acompanhamento de um projeto social, abre-se um oceano de possibilidades para realizá-lo, com vários doadores, filantropos e fundações optando por caminhos distintos, na tentativa de entender o processo, mapear o impacto social gerado e compreender o resultado das ações. Como esse é um tema amplo, vamos falar neste post sobre o conceito geral que se tem dessa atividade na filantropia brasileira e também como é a prática no Movimento Bem Maior.
O que é um acompanhamento de projeto social?
Ao realizar um investimento social, a intenção do doador é muito clara: a de que o dinheiro destinado seja útil, de alguma forma, para gerar impacto social na ponta, com foco na causa que uma organização abraça, e ser capaz de transformar a realidade e a dignidade das pessoas em situação de vulnerabilidade social.
Mas como saber se o investimento conseguiu gerar mudança social sistêmica? Será que o apoio, de fato, vai fazer a diferença para o público impactado? Como saber isso? Então, de maneira geral, na filantropia feita no Brasil, o conceito de acompanhamento de projeto social representa o processo de obter informações, coletar dados, ter evidências das ações realizadas e verificar se os atores sociais estão desempenhando as atividades conforme o planejado, chegando até o momento em que o investidor e a instituição conversam sobre as ações e resultados do investimento social.
Durante esse diálogo, dependendo do nível do relacionamento existente entre as partes, podem ser tratados assuntos como a prestação de contas, o cronograma, a avaliação dos projetos sociais, a visibilidade das ações, a formulação de relatórios, a metodologia empregada e as metas estipuladas.
De um lado, há um investidor, que tem identificação e acredita em determinada causa, e busca entender se a tese de investimento adotada promove alguma transformação social. Na medida em que esta pessoa recebe dados e informações sobre o investimento, estabelece-se um cenário de segurança para fazer outros aportes e um sentimento especial de ter apoiado uma causa. Do outro lado, há a organização que, ao ser transparente e ter a preocupação de gerar dados capazes de comprovar os resultados obtidos, deixa claro para os seus públicos de interesse a sua seriedade, além de transmitir credibilidade e, consequentemente, ganhar força no processo de captar novos apoiadores.
Como fazemos o acompanhamento
Em vez de seguir a linha do monitoramento, o Movimento Bem Maior vai pelo caminho da colaboração com as organizações sociais parceiras. O intuito é o de construir uma relação de troca baseada na confiança e na troca mútua de aprendizado, na visão que cada um possui e no compartilhamento de conhecimento e de experiências.
Todo o processo é feito em cima de teses que vão ao encontro da visão que temos sobre transformação sistêmica, ou seja, a capacidade de afetar completamente o organismo e a estrutura da causa. Tal transformação preconiza, por meio de uma estratégia de investimento social, a criação e o fortalecimento de sistemas sociais que podem ser responsivos em um mundo repleto de desafios complexos e em constante mudança.
Rodas de Conversa
Uma prática que temos, por exemplo, são as rodas de conversa trimestrais com as organizações que apoiamos. Trata-se de um momento de aproximação e troca. De um lado, os líderes sociais compartilham os objetivos alcançados e os aprendizados que obtiveram, gerando inteligência coletiva, além de pontuar os desafios que estão enfrentando, para entender de que forma podemos auxiliá-los. Do outro lado, nós aprendemos mais sobre a causa e a forma como as organizações desenvolvem uma determinada tecnologia social que tem potencial para transformar o território onde atua.
O MBM busca apoiar tanto organizações com alcance nacional – para que possam criar soluções sociais inovadoras e escalonáveis, tanto em nível territorial como também de tecnologia social, por exemplo, e que sirvam como referência para inspirar políticas públicas –, como também atua para impulsionar organizações locais, que costumam estar em regiões onde as políticas públicas não as alcançam e que estejam fora dos radares de grandes investimentos sociais.
Futuro Bem Maior
Uma das formas de apoio vem pelo programa Futuro Bem Maior, que estimula o empreendedorismo social de base comunitária ao investir em organizações e coletivos que, por menores que sejam, tenham capacidade de se conectar profundamente com a população local, construindo respostas aos desafios sociais e fortalecendo o desenvolvimento da região onde atuam.
Para fazer o acompanhamento do Futuro Bem Maior, o MBM busca entender a jornada das organizações parceiras, observando indicadores referentes à maturidade atingida (o quanto a organização conseguiu se desenvolver institucionalmente), ao desempenho obtido, ao alcance da visibilidade e à sustentabilidade financeira.
O sentido de colaboração é sempre muito forte. Quando um coletivo, por exemplo, relata as suas dificuldades, o MBM pode dividir a sua expertise ou fazer a ponte com outra instituição que já tenha passado e superado semelhantes desafios. E, durante as trocas de informação, nós também aprendemos muito com o trabalho de lideranças sociais, que têm potencial também para beneficiar outras organizações no futuro.
Ao estabelecer parcerias, com o acompanhamento dos projetos feitos de forma colaborativa, com a identificação de lideranças, com o compartilhamento do aprendizado, com a difusão de boas práticas e casos de sucesso, uma rede do bem é ampliada e aperfeiçoada. E, assim, alguns passos importantes são dados no caminho rumo a uma transformação social no Brasil.
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Este artigo foi escrito por
Beatriz Waclawek, Coordenadora de Projetos do Movimento Bem Maior