Organização ajuda o banco a selecionar projetos de impacto socioambiental com valor mínimo de R$ 5 milhões
O Movimento Bem Maior (MBM), criado no início da pandemia por grandes empresários para fortalecer a cultura de doações, comprometeu-se a conseguir R$ 20 milhões em aportes iniciais para o novo Fundo Socioambiental do BNDES, um matchfunding lançado em agosto pelo qual o banco coloca R$ 1 para cada R$ 1 investido pela iniciativa privada em projetos de impacto socioambiental, até o limite de R$ 100 milhões. Ou seja, no total, os recursos disponíveis chegarão a R$ 200 milhões.
A primeira etapa de inscrições vai até o próximo dia 30, mas as propostas serão continuamente analisadas, enquanto antes, era necessário aguardar uma chamada pública através de um edital. Para se candidatar, os projetos devem ter valor mínimo de R$ 5 milhões e visar reduzir desigualdades na educação, geração de renda ou apresentar ganhos para o meio ambiente.
A parceria entre o MBM e o BNDES é inédita e deve abrir caminho para outras iniciativas desse tipo, segundo Bruno Aranha, diretor de crédito produtivo e socioambiental do banco.
O fundo se insere em um dos pilares do BNDES para alcançar metas ligadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas. “Queremos ampliar o leque de produtos financeiros para essas ações, captar mais recursos de terceiros para financiamento de projetos; e desenvolver a parte institucional, com avanços nas políticas, processos e capacidade de avaliação de riscos como forma de avançar nesta agenda”, afirma Aranha.
Os fundos não-reembolsáveis entram no item relativo a novos produtos, que na prática são doações. Eles não necessitam de quitação do crédito, desde que cumpram rigorosamente as exigências legais e comprovem os resultados das ações propostas.
Fundo Socioambiental funciona como uma ampliação do antigo Fundo Social, criado em 1997 e que já apoiou com R$ 1,7 bilhão de 420 projetos, informa Aranha. Opera também num modelo similar ao Salvando Vidas, matchfunding criado em abril de 2020 para alavancar recursos para ações ligadas à saúde e combate aos efeitos da pandemia. O Salvando Vidas mobilizou R$ 113 milhões, de 67 empresas e 1640 pessoas físicas. O dinheiro serviu para ajudar 871 hospitais com equipamentos, usinas de oxigênio, respiradores e refrigeradores para vacinas, entre outros.
A expertise do Movimento Bem Maior na área de educação e empreendedorismo será fundamental para contribuir com a avaliação das propostas apresentadas e na validação dos projetos mais interessantes e de maior alcance, segundo o diretor.
Carola Matarazzo, diretora executiva do MBM, acredita que a agenda ESG (de boas práticas socioambientais e de governança) das empresas vai estimular o apetite até mesmo daquelas que ainda não têm uma área de filantropia desenvolvida. “Um ano atrás começamos a desenhar juntamente com o banco um modelo que respeitasse todas as normativas e exigências de governança e compliance do banco e que fosse interessantes também para as empresas”, afirma Matarazzo.
Durante seis meses as equipes discutiram os padrões necessários, o que resultou, segundo Matarazzo, num programa robusto atendendo todas as exigências do banco público.
“Vamos ajudá-los a buscar os parceiros e estamos na mesa de validação dos projetos. O grande legado desse trabalho é abrir um caminho para essa linha de não-reembolsáveis no orçamento do banco”, afirma Matarazzo. “O cuidado na governança é redobrado, mas será um recurso disponível no orçamento e num momento absolutamente necessário num momento como este.”
“Essa parceria é mais um passo da atuação do BNDES com o setor corporativo e serve de modelo para ações futuras que visam alavancar o impacto e abrangência de iniciativas socioambientais para a sociedade, com resultados perenes e efetivos”, afirma o diretor de crédito à infraestrutura do BNDES, Petrônio Cançado.
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Matéria publicada originalmente no jornal Valor Econômico.
