Por Carola Matarazzo – Diretora executiva do Movimento Bem Maior
As dificuldades enfrentadas pela população desse imenso Brasil são inúmeras. E a garra e a força de vontade do povo brasileiro também são igualmente gigantes. Muitas vezes falta apenas uma oportunidade para promover resultados impressionantes como o que aconteceu com um grupo de catadores no Rio Grande do Norte, a Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de Caicó (Ascamarca), que em um ano viu seu projeto aumentar com grande impacto em 116%, passando de 50 beneficiários diretos para 108.
Antes de saber como se chegou a essa conquista, precisamos entender que a filantropia no Brasil está relacionada com o conceito de direitos fundamentais sociais, aos quais muitos cidadãos só têm acesso graças à atuação das organizações da sociedade civil. O setor filantrópico supre, cada vez mais, demandas de saúde, educação, cultura, capacitação profissional, assistência social e outras.
Baseando-se nisso e no reconhecimento das comunidades como um sujeito político, que busca soluções para seus problemas, vêm crescendo no país as organizações de base comunitária. Essas iniciativas buscam impulsionar o desenvolvimento de um território e de sua população de forma sustentável: é o chamado desenvolvimento local.
Você já deve ter ouvido falar desse conceito, criado por Muhammad Yunus, vencedor do Prêmio Nobel da Paz. A ideia é que no desenvolvimento local os moradores sejam protagonistas na formulação de planos para solucionar vulnerabilidades da comunidade, por meio de recursos e potencialidades locais. Não se trata de um simples reflexo de um processo de desenvolvimento nacional numa dada localidade, mas da promoção da inclusão social como estratégia de combate à pobreza. É o desenvolvimento de dentro para fora.
Entretanto, para que as organizações de base comunitária possam ampliar seu impacto e promover o desenvolvimento local, elas precisam ser fomentadas e recursos financeiros são necessários. Porém, mais do que isso, é preciso instrumentalizar os cidadãos locais para que possam participar, de forma efetiva, desde o diagnóstico do problema até a construção da proposta e de sua aplicação. Essa interação de conhecimentos exige uma grande capacidade de articulação que nem todas essas organizações têm.
Foi nesse contexto que o Movimento Bem Maior lançou o Edital de Apoio a organizações da sociedade civil e coletivos brasileiros de base comunitária, nas edições 2019 e 2020. Em parceria com o Instituto Phi, que ficou responsável pela seleção das organizações e coletivos e pelo monitoramento do apoio, criamos um diálogo amplo e construtivo, auxiliando na estruturação dos projetos para que adquirissem potencial para gerar ainda mais impacto nas comunidades em que atuam.
Retomando a história da associação do Rio Grande do Norte, ela recebeu apoio do Movimento Bem Maior e do Instituto Phi em 2019 e deu início à criação da Recicla Seridó, uma rede de articulação com outros grupos de catadores da região. A iniciativa oferece capacitação e se torna uma plataforma comum de comercialização dos resíduos para as indústrias de reciclagem e de aquisição conjunta de insumos e equipamentos de trabalho.
Além de duplicar o número de beneficiários, o projeto contabiliza 10 novas parcerias, nove delas com empresas de médio porte que passaram a doar papelão e plásticos para coleta seletiva, além do Consórcio Público dos Resíduos Sólidos do Seridó, para assessoria jurídica e técnica. Um modelo pronto para ganhar escala e fortalecer o protagonismo de mais brasileiros na construção da própria realidade.
Este artigo foi originalmente publicado no site do Correio Braziliense