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Ronaldo Silvestre, um fazedor de futuros

Por Movimento Bem Maior

jul 2021

O seu poder é a criatividade e o seu instrumento mais valioso é a máquina de costura.

Como um estilista pode ajudar no desenvolvimento de sua comunidade e ainda levar esperança a pessoas em vulnerabilidades? Para proporcionar meios de acesso a um trabalho digno a outras pessoas Ronaldo Silvestre, Estilista de Moda – que segundo ele atua como Designer Social -, usou o seu dom da criatividade para oferecer mais qualidade de vida a mulheres, jovens e mães de sua terra natal, Itabira (MG), através da economia solidária e empreendedorismo. 

Ronaldo Silvestre

Ronaldo Silvestre é líder comunitário, fundador e Presidente do Instituto ITI – Igualdade, Transformação & Inovação Social, fundado em 2009. A ONG atua na capacitação profissional, geração de renda, empreendedorismo e equidade de gênero. Fotos/reprodução

 

Para entender a história de Ronaldo, precisamos lembrar de um dos movimentos separatistas da história do Brasil, que ficou conhecido como a Revolta dos Alfaiates. Em 1798, inspirado pelos ideais da Revolução Francesa – Igualdade, Liberdade e Fraternidade – ocorreu a Conjuração Baiana, movimento separatista, que tinha como objetivo abolir a escravidão e atender às reinvidicações das camadas mais pobres da população. Esse contexto histórico ligado à indumentária é o ponto de partida da conversa com Ronaldo Silvestre, que expôs com maestria o papel da vestimenta, que vai da proteção ao corpo à divisão de cascas. E, para muito além disso, “é a arma que a gente tem para as grandes revoluções do mundo”, afirma Ronaldo.

Se naquela época a grande luta popular foi pela independência da coroa portuguesa, atualmente, muitas mulheres no Brasil continuam lutando por sua independência financeira, para dar uma vida mais digna a si mesmas e aos seus filhos. E é nessa história que Ronaldo participa efetivamente dando a sua contribuição na transformação de várias vidas. 

Afinal, quem é Ronaldo Silvestre?

A resposta veio de imediato: “um sonhador!” Para ele, a sua história reflete a de sua mãe, que sempre o ensinou a ter fé, esperança e nunca deixar de acreditar. 

Filho de Eurídice Martins da Silva, uma mulher que teve uma vida difícil, tirava o sustento lavando roupas e vendendo pastel nas ruas da pequena cidade mineira. Muitas vezes, trocava o serviço por roupas usadas e material escolar, também usados, para dar aos seus filhos. Quando ela conseguiu comprar a sua primeira máquina de costura a vida de sua família tornou-se mais próspera. 

Desde criança Ronaldo já mostrava o seu dom criativo na escola, onde se destacava nas aulas de desenho e artes. Só mais tarde, quando já trabalhava com desenho industrial em uma multinacional, ele decide seguir o seu sonho de fazer um curso de moda em uma universidade.  

Mas o fio condutor da sua jornada veio com o ecodesign, uma proposta de design de moda mais sustentável. A partir desse movimento, Silvestre produziu muito e alcançou vários prêmios nacionais na categoria moda ecológica. Durante oito anos da sua carreira se dedicou a projetos sociais do Sebrae, prestando consultoria técnica a costureiras de cooperativas de trabalhadores rurais por diversos cantos do país. E não parou mais de voltar o seu olhar e energia para o trabalho social. 

“Respeitar nossas origens para construir a transformação que a gente almeja tanto”

Após passar um grande período da sua vida na região sul do Brasil, Ronaldo decide voltar à Itabira, desta vez com uma missão: propor uma transformação social. “Eu entendi que se eu quero propor uma transformação, ela precisa começar nas minhas origens”. A realidade que Ronaldo encontrou em Itabira durante o seu regresso, foi chocante, relata. Amigas que estudaram com ele na escola já eram avós aos 40 anos de idade, muitas delas foram mães na adolescência. 

Essas mulheres seguiram uma vida com dificuldades tanto financeiras quanto psicológicas, fatores que agravam o não desenvolvimento profissional e pessoal. Ao tomar conhecimento dessa realidade e perceber que possuía todas as ferramentas necessárias para plantar a semente da transformação que tanto almejava, veio a fundação do Instituto ITI. 

Porém, nem só de sonhos vivem os gestores de ONGs. É muito trabalho voluntário e, infelizmente, por mais que você trabalhe incansavelmente, ainda poderá ouvir críticas duras e dúvidas a seu respeito. Ronaldo conta que por causa do seu projeto de desenvolvimento social foi mal interpretado. Políticos e empresários locais indagavam sobre os seus reais interesses. “Ser resiliente e vencer o preconceito”, dentro da sua cidade, foi um dos maiores desafios enfrentados para levar o projeto adiante. 

E se não fosse a sua rede de contatos e o seu conhecimento, adquiridos durante toda a sua carreira de estilista, não seria possível conseguir desenvolver o seu projeto social. “Ser um articulador social é você entender as possibilidades que você tem e a maneira como você pode contribuir para que as coisas aconteçam”, afirma. 

 Mesmo com os “nãos” e todas as dificuldades ao longo da sua jornada, foi com jogo de cintura que conseguiu seguir em frente. Hoje o Instituto ITI é uma fonte de inspiração para outras ONGs e pessoas se fortalecerem e se desenvolverem.

Letícia Sabatella veste Ronaldo Silvestre

Na foto, a atriz Letícia Sabatella veste ARTWEAR – Ronaldo Silvestre. Saia em tule bordada com resíduos têxteis em denim da Capricórnio Têxtil . Redesign têxtil produzida pelas mulheres do Instituto ITI. Foto reprodução/ Créditos: @nakaoamanda

 

“Quando a gente ajuda o outro a gente aprende e fica feliz com a conquista do outro”

Para Ronaldo, os resultados mensuráveis do seu trabalho, até hoje, estão no aumento da qualidade de vida das mães e filhos, que através do curso de costura do Instituto ITI conseguem ter uma fonte de renda para o sustento de suas famílias e até pagar uma faculdade. 

“O [resultado] ‘mensurável’ é ver uma mãe com mais de 40 anos, com 3 ou 4 filhos, preocupada em entrar numa faculdade, para melhorar de vida. E lutar para que a sua filha não siga o mesmo caminho que ela teve, ou de engravidar na adolescência”. Ao presenciar várias mulheres com histórias semelhantes a essas, em um rompimento de ciclos, que Ronaldo acredita, cada vez mais, no poder transformador que uma máquina de costura tem. 

Com essa vontade de fazer novos futuros possíveis a outras pessoas, ele segue seus sonhos transformando-os em realidades. E deixa uma mensagem, em especial para as pessoas que trabalham no terceiro setor e estão à frente das ONGs: “Que a gente nunca deixe de acreditar e ser persistente, de ter uma visão de mundo que nos inspire a trabalhar nas ONGs. Pense que você pode ajudar outras pessoas e outras ONGs com o seu trabalho, e que você está cumprindo o seu papel no mundo. É uma construção em conjunto e no final, todos lutamos pela mesma causa”, conclui. 

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