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Desigualdade

Por que precisamos de uma cultura de doação

Por Christian Klotz


A resposta a essa questão, que deve embasar nossas ações de filantropia, está nos números que retratam a realidade do país. Dados divulgados em novembro pelo IBGE demonstram que, em 2020, a parcela da população com maior renda no Brasil, que representa 1%, ganha 34,9 vezes mais que a metade dos brasileiros que têm menor renda. Enquanto a renda média mensal das famílias mais ricas fica em torno de R$ 15.800, metade das mais pobres tem rendimento médio de R$ 453. No ano passado, o rendimento médio mensal da população em geral atingiu o menor patamar desde 2012, ficando em R$ 2.213.

Apesar das grandes riquezas naturais, que nos oferecem boas perspectivas de crescimento, somos uma nação com muita pobreza, reforçada pelas desigualdades. Com base no índice de Gini, usado para avaliar o nível de concentração de renda, o Brasil fica entre os dez países mais desiguais do mundo. O Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU, divulgado no fim de 2019, indicou que o país tem a segunda maior concentração de renda no mundo, atrás apenas do Qatar.

O caminho para reduzir as desigualdades e diminuir os abismos que separam as diversas camadas do povo passa pela filantropia e pela promoção de justiça social. Para transformações tão necessárias, devemos proporcionar às pessoas negligenciadas pelos desafios sociais a oportunidade de uma vida digna, com acesso a saúde, educação, habitação, infraestrutura básica, trabalho e todos os recursos que lhes darão condições de buscar prosperidade.

O país que sonhamos exige uma mudança de consciência e de posicionamento diante da atuação social, entendendo-a como parte do motor que impulsiona o crescimento de todos os setores. Nos EUA, a filantropia responde por cerca de 2% do PIB, que passa de US$ 20 trilhões. Aqui, ainda estamos distantes dessa realidade, com um índice filantrópico abaixo de 0,2% do PIB.

Se considerarmos a pobreza que vemos em todas as regiões, precisaríamos de muito mais doação. Há um equívoco que dificulta avançar no objetivo de melhorar a condição geral da população: a confusão que fazemos dos conceitos de imposto, doação e esmola. A esmola não promove justiça social — ajudar momentaneamente alguém que passa necessidade pode ser benéfico, mas esse é um debate mais profundo, que envolve a consciência de retribuir e tentar, com o melhor dos nossos esforços, dar às pessoas a oportunidade que a sociedade falhou em oferecer. É a cultura de doação que traz os resultados para as questões que levantamos, propicia o avanço social e cria as oportunidades para mudar os índices de pobreza e desigualdade.

Para que a cultura de doação se efetive, será necessário que líderes empresariais se aproximem das causas sociais, voltando-se à filantropia. Quando as empresas efetivamente se engajarem no plano de reduzir as desigualdades, comprometendo-se a retornar e compartilhar conquistas, teremos como resultado o fortalecimento da sociedade e, consequentemente, da economia. Se desejamos uma sociedade economicamente ativa, mais justa e igualitária, precisamos entender que a responsabilidade para a mudança de cenário depende de um esforço conjunto entre governo, empresas e sociedade civil.


Sócio da Brasil Capital e Membro do Conselho Administrativo do Movimento Bem Maior

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