Por Carola Matarazzo
Há cerca de um ano não poderíamos imaginar o que os meses futuros nos reservariam: 14,8 milhões de desempregados, taxa de desemprego de 14,7% no primeiro trimestre de 2021 (no primeiro trimestre de 2020 o índice foi de 12,2% ), conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É a maior taxa da série histórica, iniciada em 2012. Desafios inesperados, medo, insegurança e muita resiliência.
A vacinação chegou trazendo esperança, mas a estrada até a imunização em quantidade suficiente para garantir tranquilidade é longa e interceptada por novas variantes mais contagiosas que surgem no Brasil e pelo mundo. Os mais vulneráveis, além de mais atingidos pela doença, também convivem com fome, sede e outras lesões fatais. Sabemos que em muitos locais mal conseguimos abordar a necessidade de lavar as mãos, porque não há água sequer para beber.
Quando há um grande vale que nos separa do restante do caminho, é necessário construir pontes. O pensador da modernidade Zygmunt Bauman, defende que não deveríamos erguer muros, e sim construir pontes. No momento atual, a ponte que precisa edificar é para salvar milhares de vidas. O que enfrentamos no pós-pandemia, desde os impactos da crise econômica até as consequências para a saúde de pacientes que seguem com sequelas da Covid-19? Ao terceiro setor cabe ajudar a travessia até o final da pandemia.
A trajetória implica em pensar programas de geração de renda, capacitação à distância e ações para reduzir a pobreza. Apostar em grandes iniciativas e apoiar os pequenos setores, que criam uma onda de impacto que começa no bairro, estende-se para a comunidade e a cidade.
Acredito que nossa ponte deve ter três pilares principais: combate à fome e à sede, inclusão produtiva no mercado de trabalho e conectividade, sem deixar de lado saúde e educação, o alicerce essencial. Seguir com esforços conjuntos para tangibilizar resultados sociais , escalonar mudanças e endereçar novas políticas públicas. Construir o elo entre os setores público e privado, garantir que uma estrutura seja sólida, resistente e nos ajude a ir além deste lugar em que a Covid-19 nos colocou. A ponte é o espaço em que vamos preparar a restauração da economia, a retomada do emprego, o equilíbrio social. Assim como muitos pacientes, nossa sociedade também enfrenta sintomas prolongados que perduram há anos. Muitas pessoas precisam de ajuda na garantia dos seus direitos essenciais básicos e a travessia passa também por essa construção.
O dicionário nos mostra que ponte é sinônimo de ligação, conexão, elo, associação, união, vínculo. Em filantropia, acrescentamos a colaboração. As pontes fortalecem relações, e vínculos, algo fundamental para vivermos em sociedade mais inclusiva e plural. Vamos construir pontes – esse é o convite que faço a todos que estão envolvidos com uma filantropia e o Movimento de Cultura de Doação no país. Quando atuamos juntos e coordenados, somos capazes de grandes transformações.
Este artigo foi originalmente publicado no site do jornal O Povo Mais – CE.